Centro Social Paroquial da Benedita

 

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Mais de 50 anos ao serviço da comunidade local

Recordando

Momentos inesquecíveis foram passados naquela “casa do Largo do Cruzeiro”, casa da velhinha, acolhedora, misteriosa…

Quantos Recantos!…centrosocialparoquial3

– Aquela cave escu­ra, com grandes talhas, onde se guardavam os produtos trazidos em cortejo e oferecidos em dia de grande festa.

– O óleo de fígado de bacalhau, remédio preventivo de doenças, que tantas tormentas causava, a quem tinha que tomar, também lá estava guardado na grande despensa!

– Aquela escada estreitinha e escura que dava para a residência das Irmãs! Quanta curiosidade…

– Aqueles quintais, com ginjeiras e nespereiras, local das brincadeiras, aguçavam o apetite, faziam atirar pedras, às escondidas…

– Aquele terraço, com cobertura de pano para proteger do sol, voltado para o quintal dos “Carmos” com patos e galinhas, que de vez em quando comiam as migalhinhas, furtivamente atiradas pela criançada, provocando picadas e cacarejos.

Todas as manhãs, lá vinha a senhora Maria “Catrina”, santa velhinha (avó do Centro, como era chamada), abrir o portão de zinco, sempre que a sineta badalava. Por ele entravam as meninas para a Escola Maternal, as jovens raparigas para a Casa de Lavores e os rapazitos e meninas de idade escolar, para a Cantina Recreatória.

Por volta do meio dia, era a hora da distribuição da sopa – famílias necessitadas e “pedintes de passagem” eram sempre acolhidos e atendidos com carinho. Todos os que por lá passaram terão decerto muito que contar e recordar.

Como Tudo Começoucentrosocialparoquial2

Foi a 13 de Abril de 1946 que chegaram à Benedita as Irmãs Servas de Nossa Senhora de Fátima: Maria das Dores Vitorino Costa e Celeste da Silva Frederico acompanhadas da Superiora Geral da Congregação, Madre Luíza Andaluz e da Procuradora Geral, Madre Ermelinda Costa Sobral.

A pedido do Senhor Padre José Coelho Susano, Pároco da Benedita, as Irmãs vieram dirigir e orientar o Centro de Assistência Social, cujos Estatutos foram aprovados no ano seguinte a 31 de Maio de 1947.

As Irmãs foram recebidas, entre aplausos de festa, pela população que se concentrou à entrada da freguesia e as acompanhou em cortejo até à residência, casa cedida graciosamente pelo Senhor Padre José António da Silva.

Ouçamos como Madre Luíza Andaluz relata o dia da chegada:

“Na Benedita fomos muito bem recebidas, foram 3 automóveis com pessoas da terra, buscar-nos a Santarém. O mafarrico fez a sua parte, os carros tiveram panes e as rodas furos, e em vez de chegarmos à Benedita às 9 horas da manhã, chegámos ao meio-dia. As crianças em jejum para a comunhão geral; comungaram 400 crianças e 400 adultos.

À estrada foi-nos esperar um batedor de motociclo que veio apressadamente para trás logo que nos viu chegar ao extremo do distrito de Santarém, aonde confina com o de Leiria e veio comunicar a “ feliz nova” da chegada das freirinhas, como eles dizem, ou as irmãzinhas.

No Largo junto à nossa Residência, apinhavam-se as crianças e mais povo. Vivas e palmas e muita alegria.

Em Rio Maior entrámos num dos carros do Padre José António, bom velhote da Benedita que está capelão nas hospitaleiras de Rio Maior e que nos emprestou a casa com mobília, roupas e loiças. A casa é boazinha, serve muito bem.

Também se ofereceram servas gratuitas, uma cozinheira e uma criada de fora, pessoas piedosas e de confiança.

Houve missa na Igreja, missa na capela da nossa Residência, Bênção do Santíssimo e Bênção da casa. Por fim o almoço, por volta das duas horas da tarde. Nem dei por isso, que estava fraca. À tarde, muitas visitas, de todas as classes e até pretendentes

a pedirem admissão. No Domingo de Ramos ouvimos duas missas, depois o almoço, Via-Sacra às 4.30h e depois sessão solene no salão de reuniões da Acção Católica que é enorme.

O nosso amigo batedor da chegada, tirou-nos fotografias à chegada ao salão e à saída do mesmo. O salão é grande, mas estava repleto.

Veio receber-nos o Regedor, o Administrador do Concelho de Alcobaça e também o Presidente da Junta da Benedita, etc.

A pedido do Prior, fiz uma pequena conferência a explicar o que era a nossa congregação. O Prior tinha preparado uns quadros vivos em que uma das pretendentes, com bata preta que lhe emprestou a Irmã Celeste, fazia o papel de serva nos núcleos. O primeiro quadro era uma lição de costura, o segundo uma cozinheira com panelas sobre fogareiros e duas pequenas a descascar batatas, o terceiro  quadro uma lavadeira e o quarto uma irmã a visitar uma doente em sua casa”…

Contexto Social, em que o Centro nasceu

Decorriam os anos 40 e o rescaldo da II Grande Guerra Mundial fazia-se sentir em todo o nosso país, especialmente na escassez de produtos alimentares, matérias-primas para a produção, falta de escoamento dos produtos fabricados, falta de emprego…

A nossa freguesia, essencialmente votada ao fabrico de calçado, “terra de sapateiros” como, é conhecida, sentiu fortemente a crise, não só pela falta de materiais para o fabrico, mas particularmente a falta de escoamento do produto. Andava-se de feira em feira, percorria-se quilómetros e quilómetros vendendo-se muitas vezes apenas um ou dois pares de botas ou sapatos. As dificuldades económicas eram muitas, mesmo muitas.

Conhecedor de toda esta situação, o Pároco vivia preocupado, principalmente com o crescimento e educação das crianças e dos jovens.

Foi neste contexto social que fundou o Centro de Assistência Social, aceitando a generosidade do conterrâneo, Padre José António da Silva, na cedência da casa e conseguindo a aceitação, por parte da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, em vir colaborar no Apostolado Social e Paroquial. Nas instalações da residência das Irmãs foram criadas as seguintes secções:

  • Escola maternal para meninas dos 3 aos 6 anos;
  • Cantina Recreatória para meninas e rapazinhos em idade escolar;
  • Casa de trabalho, lavores femininos para jovens raparigas;

Simultaneamente à criação destas secções, o senhor Padre José Susano realizou um sonho que já há alguns anos lhe ocupava e preocupava o pensamento: fundar uma escola de aprendizagem de sapateiro, que funcionou numas dependências do antigo salão situado onde está hoje a nova igreja paroquial.

A testar esta preocupação vejamos a carta dirigida ao Governador Civil de Leiria:

“Há já oito anos que o meu coração de Pároco desta freguesia se vem despedaçando ao presenciar o triste espectáculo imoral do meio das oficinas; a grande maioria dos homens e rapazes são sapateiros, portanto os filhos seguem o mesmo caminho.

Os rapazinhos bons, educados com tanto esforço no amor ao trabalho, honradez pessoal e obediência aos superiores, etc., em contacto com outros de diferentes idades e costumes, dentro de poucos meses estão piores que eles, por isso eu já há seis anos venho pensando como obstar e remediar tal miséria moral, acrescentada agora pela falta de trabalho e de quem os aceite nas oficinas, por não terem materiais. E se entregam a tudo, até mesmo a roubos – a ociosidade é a mãe de todos os vícios – e ainda, por outras razões de consciência e moral que afectam até a saúde e a honestidade de costumes.

Resolvi dedicar todos os esforços, trabalho, influências e até dinheiro, para fundar uma casa de aprendizagem, onde se formassem os rapazes técnica e moralmente, podendo assim ajudar as famílias a manterem-se.

Nesse sentido, já arranjei casa, mestre, contramestre e aprendizes; já fui a Lisboa várias vezes; o Senhor Presidente da Junta Nacional dos Produtos Pecuários, achou o caso muito interessante, mas na altura, isto é, em Agosto, disse não ter possibilidades de nos poder distribuir materiais… “

Ao Grémio Concelhio de Solas e Cabedais, enviou a mesma carta, acrescentando:

“…mas eu creio que isso não seria muito difícil, pois bastaria um contingente de 80 a 100 kg de sola e 50 kg de cabedal por mês, e isto que média geral não fazia falta a ninguém, faria aqui uma óptima obra moral e técnica, ainda que fosse com o encargo de fazer calçado para qualquer instituição de beneficência…”

A oficina escolar começou a funcionar em Agosto de 1946. Através destas actividades, o Centro cooperava com as famílias na criação e educação dos filhos, socorria os necessitados, realizando assim os fins dos Estatutos.

No decorrer dos anoscentrosocialparoquial

Em 1951 foi criado o Lactário, para assistência à primeira infância e às mães, numas dependências da casa do senhor José de Almeida.

O aspecto assistencial, a nível de saúde e serviço social, era feito no próprio Centro e ao domicílio. As Irmãs deslocavam-se a pé aos vários lugares acompanhadas, de início, pela senhora Maria, que conhecia bem toda a freguesia, visitando os doentes e necessitados, o que lhes possibilitava uma grande inserção e conhecimento do meio. Faziam-se curativos, processos de internamento, pedidos de subsídios.

Na Escola Maternal, seguiram-se os métodos pedagógicos de João de Deus e Maria Montessory. Havia a preocupação de atender às necessidades e capacidades das crianças.

Na sala de trabalho, frequentada também pelas meninas da Cantina Recreatória, depois dos trabalhos escolares, faziam-se bordados, tricôs, corte e costura – muitas roupas e enxovais ali foram feitos!

Porque os rapazitos da Cantina Recreatória, para além dos trabalhos escolares não tinham qualquer outra actividade e para que não se afastassem do Centro, comprou-se-lhes uma bola, fazendo eles próprios o seu campo de jogos, no terreno destinado ao nosso edifício do Centro, que não chegou a ser construído. No local encontra-se o Externato Cooperativo – do Instituto de Nossa Senhora da Encarnação.

Como em alguns lugares, não havia professoras nas escolas, em horas marcadas, funcionaram no Centro aulas de aprendizagem de leitura e escrita, utilizando-se a “Bíblia das Escolas” como livro de base, servindo também de catequese.

De 1946 a 1948, as crianças e os jovens, traziam os seus farnéis. O Centro não fornecia qualquer refeição. Logo que se estabeleceram os acordos com a Direcção Geral de Assistência, passou-se a fornecer sopa e leite. Pagava-se 1$00 pela sopa e pelo copo de leite.

Iniciou-se também nessa altura a distribuição de sopa aos necessitados. As famílias traziam as panelas e muitas delas iam às escolas levar a sopa aos filhos.

Em 1957, o Lactário mudou de instalações – passou a funcionar com o Dispensário médico, criado nesse ano no edifício pertencente à família do Senhor José Elias, na Rua da Capela.

A partir de 1960, a Escola Maternal passou a ser mista, tendo entrado nesse ano 15 rapazinhos de 4 e 5 anos.

Nesse ano deixou de se distribuir farinha e leite aos bebés por ter acabado a Junta de Providência da Estremadura, ficando as famílias privadas deste benefício, que já recebiam há 9 anos.

A frequência das várias secções foi aumentando e tornou-se necessário arranjar mais salas. Assim, em 1963 arrendou-se uma casa pertencente à família do senhor Padre José António, situada do outro lado da estrada. Aí funcionou a sala de lavores femininos, as salas de estudo das crianças de idade escolar, a enfermagem e sala de reuniões.

Neste ano, com a colaboração das assistentes sociais, enfermeiras e engenheiros do movimento de Desenvolvimento Comunitário instalado na freguesia, decorreu nessas instalações do Centro um curso para senhoras e outro para raparigas.

Em 1964, teve lugar um outro curso com a participação de 200 senhoras e 100 raparigas, sobre psicologia e puericultura, dado por uma assistente social estagiária, que trabalhava no Desenvolvimento Comunitário e pela enfermeira parteira do Centro.

Em 1969 a Escola Maternal passou a denominar-se Jardim-de-infância. Era frequentado por 48 crianças de ambos os sexos.

A casa de trabalhos e lavores femininos, passou a funcionar também à noite, para possibilitar às raparigas operárias das fábricas a frequência dos cursos de corte e costura, dactilografia, culinária, puericultura, psico-pedagogia, economia doméstica, moral, religião e educação cívica.

Foi nesta época, e como resultado da acção do movimento do Desenvolvimento Comunitário que surgiram as grandes fábricas de calçado e outras, criando-se muitos postos de trabalho.

Em 1969, tendo já morrido o Senhor Padre José António, depois de diálogos com a família, a Paróquia resolveu ceder as instalações da residência paroquial, imóvel bastante espaçoso e com possibilidades de ampliação para aí funcionar o Centro, construindo-se outra casa para residência do Pároco, muito embora existisse um projecto arquitectónico de construção de raiz, da autoria de Lucínio Cruz, chegando mesmo a celebrar-se a cerimónia de bênção e lançamento da primeira pedra.        .

Foi em 1970 que o Centro passou a funcionar na residência paroquial e as Irmãs a residir fora das Instalações do Centro.

Pelos anos 80, fizeram-se as adequadas adaptações e a construção do edifício onde funciona a creche,  A.T.L., os serviços de cozinha, refeitório, e lavandaria.

O número de utentes aumentou consideravelmente, sendo a lotação, estabelecida em acordo com a Segurança Social de 10 crianças no berçário, 30 na creche, 122 no jardim-de-infância e 40 no A.T.L. perfazendo um total de 212 crianças. A frequência vai sempre até às 215 ficando em lista de espera uma média de 30 a 40 crianças.

De 2000 a 2002, foram efectua­das grandes obras de ampliação, criando-se assim um novo espaço para o sector de Acti­vi­dades dos Tempos Livres, que integra diversos ‘ateliers’ a criação de um espaço para uma nova valência – Clube Juvenil – e um bar para apoio de toda a Comunidade Educativa – Pais, Funcionários e Clube Juvenil.

Neste período foram ainda remodelados a cozinha, a secretaria, o refeitório, a entrada principal, a lavandaria, a sala de reuniões e a sala dos funcionários.

Em 2002, iniciou-se a Valência do Clube Juvenil; abrangendo jovens dos 10 aos 18 anos.

Entre 2000 e 2003, o número dos utentes aumentou substancialmente, distribuído assim pelas seguintes valências

Valência de Creche – 80 utentes,

Jardim de Infância/ Pré- escolar – 125 utentes,

Actividades dos Tempos Livres – 110 utentes,

Clube Juvenil 15 Jovens.

[1] Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima. Natural da Benedita. Foi directora pedagógica do Centro durante 13 anos.

[2] Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima. Foi directora pedagógica do Centro durante 6 anos.